quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Tons de negro

As consequências de quem se joga e não sabe ganhar. Não lido bem com esta situação. Não sei como jogar, estou perdido, encontro-me descrente. Fácil e difícil, em tons de cinzento fechado, escuro, como um vibrante céu de tempestade… sem rumo, sem calor… longe e triste. Abandonado à sorte de uma roda inquieta, de um sonho que nunca tive. Perdido, desencontrado com a vida. Em tons de negro, borro os odores com sabores amargos… Sem final feliz consomo os meus últimos suspiro de dor. E as lágrimas catapultam os sentimentos perdidos… desperdiçando cada segundo, parado com olhar inconclusivo… esquecido do mundo, acampado às quimeras do além.
Sei o que não descobri, gracejo os dotes de um sonho que já não vivo e derrubo mais um gotejar, despegando-se um rosto amargurado, empobrecido, esquecido, enegrecido, amorfo, morto.
E neste último segundo, encosto-me aos pensamentos, regurgitando ideias vagas… o concreto absurdo ou o perfeito ideal… procuro a solução no fim das linhas… no fim da minha linha… será que valerá a pena continuar, esquecido, são imensos os testes que a vida nos coloca e a solução está ali tão perto, tão simples… quebro-me em mil, coloco-me no cheiro do desaparecimento… questionando-me… degolando-me, afundando-me em sentimentos errantes…
Parte de mim já foi… estará o resto para breve?
Quem sou eu afinal?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os dias da gente

Os dias passam e as voltas giram-nos, devolvem-nos à memória os cheiros da infância e dias... dias diferentes, mais tristes, menos vividos...
Um dia não são dias, mas existem dias que marcam os dias da gente... e as forças fraquezas e as tripas coração... e um dia mais triste, em que se esquece que a vida existe...
Estes são os dias tristes que nos refazem, que nos repensam em cansativos suspiros e ânsias de quem nada quis, de quem já não sente nem sabe o que diz...
Comidos pelas gotas da tristeza, aninhamo-nos no escuro da melancolia e tentamos esquecer, apenas esquecer o que se sabe, olvidar os gestos e as repetidas sensações de insegurança... Abraçamo-nos no nada, aspiramos o vácuo, uma vez mais, só mais esta vez, escorrem-se as lágrimas de um rosto regelado. Descrédulos, fitamos o negro vazio... fitamo-lo até um dia em que a gente se sinta diferente...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Em cima do joelho

Em cima do joelho torna-se mais difícil... prever não é uma arte oculta, é a pura ciência da não dependência de terceiros... quem escolhe errar, tem prazer no erro... quem não tem habilidade, deixa para quem sabe...
Quando nos defendemos com terceiros, foi porque deixamos chegar até esse nível, não fomos capazes de ter um plano de contingência, quando assim é, temos de repensar... quando não repensamos e erramos novamente, apenas significa que não somos suficientes para a dimensão que queremos dar às coisas... devemos aprender e crescer, pois se não sabemos crescer seremos sempre os pequenos que se apresentam sempre com as mesmas frases, com o mesmo discurso, um discurso já ouvido, já cansado de tanto se repetir e de ser enrolar nas falas, num palato aborrecido e amorfo...
O joelho vai ficando cansado... e a paciência também...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Nós mesmos

Não me apetece nada... agarrei-me ao lápis e pesquisei-me... redijo e apago, rescrevo o que não quer sair... penso e encolho-me em mim mesmo... desato-me e ecoo-me aos cantos deste quarto, cada vez mais pequeno... evado-me pela janela escura... o dia já se foi e a esperança... essa nunca existiu, só mais um dia em que não cresço, mais um sentimento arrumado nas prateleiras que hei-de ter... apago-me e restruturo-me.
Levo-me a mal e entristeço-me, agarrado à cadeira pesquiso-me ainda na esperança de não desfalecer de medo... medo de repensar a minha vida... quero acreditar no futuro... naquele que desconheço, que não quero pensar... parco de ideias, mudo-me e refaço-me... sem perceber sou diferente, mais novo e velho, mais triste e simples... um complexo de felicidades atrozes e acalmias remexidas em sonhos distorcidos... o senhor de quem se fala já cá não anda... rescreve-se por aí... e por magia o papel conta mais de mim... o lápis canta-me uma canção que já não me lembrava e sujo-me em lágrimas invisíveis... insensível, sigo rumo ao polar das estrelas do mundo, imagino-me diferente dos iguais pensadores... cheiro-me no meu mundo de contradições... uma sinestesia de etiquetas quebradas e jogos perdidos...
Vem fazer de conta que já morri e que ressuscitei... vem fazer de conta que acreditas em mim e o mundo não é mais que uma esfera parada que gira quadrada em torno de mim, em torno de um eclipse que nunca existiu... que a vida não é mais que um jogo que acabamos sempre por perder... vem jogar ao faz de conta... perde comigo este jogo... sente o perfume de um trabalho desfeito... sente a poeira assentar nos ramos de uma nova ramagem... deixa o fumo apagar as marcas dos destinos criados... cresce comigo e aprende-me, junta-te a mim... baixa a luz e vem esquecer o futuro... carrega-te em mil passados...
Deseja-o para ti, cria-o em mim e exterioriza-o connosco.

domingo, 27 de março de 2011

Naufrágio

Com o encanto do mar, desvanecido na alva espuma que se reencontrava periodicamente em seus pés desprezados de cor… enterrados no vasto areal, cobertos por cores de inverno… entristecido ao frio, o mar enrolava-a mais um pouco em seus caprichos moribundos… seco e calmo atravessava sei lá de onde para a encontrar, ali, esperando o regresso do meu sonho, da sua casquinha de noz… o seu salva vidas. Debruçada sobre o azul, enfrentava aquele solzinho invernal, uma luz que não queria aquecer o seu frágil coração… perdida na praia suportava cada onde como se fosse a primeira… confundia-se no gélido oceano as lágrimas da partida…
O vestido primaveril deixa-a a descoberto, entregue à intempérie que se aproximava… relampejantes segredos brotavam das vindouras nuvens, a uma velocidade galopante enfeitavam-se os céus a seu gosto… ao jeito do seu coração… iluminada por um sol inexistente não arredava pé do vácuo areeiro…
Cimentando a esperança do regresso… e o sonho tardava, molhado pelo sal de mais uma gota. Cheia de esperança abraçava o mar, fitando o horizonte, buscando a vela de mais um trágico naufrágio de inverno…

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um (novo) dia

As mãos desenham a carvão os traços doirados da aurora... os sonhos acabam-se no despertar... raiam-se curvados amedrontados enfrentam um novo dia. Acorrentam-se os olhos a um cheiro intenso... um perfume alvo e celeste... uma cor que não existe, um dia que não escurece.
Aguardo-me junto à vidraça, escorro-me cambaleando incessantemente... encontro-me novamente em teu regaço... atesto-me com teu ardor, encho-me para um amanhã já hoje... e o vindouro e o ontem... sintetizo-me em mil palavras, num sem número de meneios, albergo-me em meus passos trémulos, na ânsia de regressar.
Afianço a passada, procurando mais um passo, direcciono-me ao diariamente, sem gestos de mau perdedor, verto o desgosto de te esquecer... castigo-me de teu ausência. Deposito-me, enjaulado, construo-os destruindo-me... queixam-se os gostos do meu coração. Mais uma golfada de ar e o negro do dia se enjeita a meus medos... e os sonhos não passavam disso... mais um pesado entardecer, envolto em nevoeiro, denso... adensam-se meus pensamentos, que há muito que não... há muito que faleceram... órfãos de cor... acomodam-se ao mundano desatino.
Novos ventos sopram, bolinando, levito em coro até ti.
Esperas por mim? Recolho-me aos teus aposentos e mais um dia se esgotou...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O que eu gosto

Não ouço nada nem ninguém, apenas cativo-me a ti em teu recanto. Acerco-me dos teus gostos, gosto. Gosto gostar, sem uma métrica especial. Repito-me, porque gosto. Fotografo, gravo, esqueço... mas gosto. Não decoro, vivo... cheio e sinto, falo e escrevo... embrulho-me e desenrolo-nos. Gosto disso. Apaixono-me.
Carrego em mim a esperança de gostar sempre mais. Passeio e alcanço-te, já na curva de uma nova realidade. Gosto de pensar nisto e de viver, isto e mais o resto, aquilo que nunca escrevo, que nunca digo... mas gosto. Agora e sempre. Interesse-mo.
Meu desejo é gostar sempre e enquanto durar, vou gostar disso.

Os olhos consomem as cores,
a boca embrulha-se nas palavras e os cheiros
e as cores,
vivem-se sem medos
e os gostos e os sabores...
enrolam-se sem segredo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Esquissos de amor

Quando os meus sonhos abraçaram os teus, as cores fizeram sentido, os sonhos conjugaram-se num sonos real, profundo e sereno... amando-te ao vento... senti-me completo, boquiaberto, julgando-me longe e tão perto... além do mar e das chamas... a esquissos de ti... pintei-me em tons de prazer e amor... julguei-nos frágeis e tão fortes... saudosos de sede, acostados a nós, entre os delírios de um novo amor...
Agora jogo-me aos suspiros. Arrasto-me sentado, arrasto o carvão, desenhando a cinzento o choro do meu coração... esvoaçam as lágrimas da alma, eclodindo de saudade... peço-te de volta...
Ancorado à esperança, ainda de espero na alvorada vindoura, alva e esbelta, de traços perfeitos, anseio-te, amor.