domingo, 30 de agosto de 2009

Personagens

Estou aqui, sou eu, não sou instável nem coisa nenhuma. Quiseste partir com ideias já criadas, mas continuo aqui. Se cresceste eu também, se a ti te custou a mim também; de maneiras diferentes, sei, de jeitos diferentes… tive outros problemas e não tinha com quem falar, pois a pessoa que eu pensei que te podia substituir, era opressora, não era com ela que eu ia falar meus problemas.
Quando percebi que o que fiz estava errado, tentei… mas fui cobarde. Era tarde. Fui o mais rato que podia haver e voltei para o mesmo de novo… porque apesar de tudo ela estava lá, e sim, compensava com outras coisas que eu acha que podiam ser melhores, não gostava dela, encantei-me inicialmente, sim, mas não passou disso, depois tentei afastar-me. Era tarde, ela tentou findar-se (e agora é a minha vez). Vivíamos em polémicas discussões, não nos víamos, eu trabalhava… Trabalhei não como toda gente… para si próprio, mas por minha mãe… semanas longas, sem regresso anunciado e refeições sem vontade de deglutir.
Não tenho mais família que meus pais. É uma condicionante. Fui criado assim, afastei-me ou afastaram-me de tudo e não tenho nenhuma segunda família… como minha irmã teve a madrinha, ou meu irmão a segunda avó… não tenho mais ninguém senão estes… sinto falta de afecto.
Sei que a culpa é minha, que sou eu que não sou suficiente. Não me apetece nada, não sei de mim… e contigo isso nunca aconteceu… a verdade é que, por ventura, o impulso para nos conhecermos foi culpa de Benedita… mas as coisas foram ficando capazes e ao mesmo tempo francas e naturais. Aprendi que o amor não é uma jaula, mas sim uma vastíssima liberdade… algo que rapidamente desprezei com a Patrícia ou com a Susana. Sentia-me contrafeito a fazer algo… quando queria perdurar tinha de ir e quando queria caminhar tinha de me quedar… perdi-me.
Batalhei-me em conquistas perdidas e aqui peço o meu perdão, deboto todo o meu pesar, nas últimas linhas que lerás…
Pensei que tinha de ter alguém como minha mãe, pensei que assim me distanciaria… nem dei tempo a mim mesmo… mas não.
Ao longo dos meses que tive com a Susana, percebi que era eu, eu é que estava enganado (no fim estávamos os dois). Sobretudo era eu que era como minha mãe, era eu que dava o máximo, pelo bem dos outros. Sou eu que sou assim, não tinha de fazer ninguém assim… eu simplesmente sou assim, não sou inconstante… se calhar sou um pouco carenciado, de uma infância que comparo com a de meus irmãos, que tiveram outro apoio, algo que eu não tive… sinto-me mais longínquo que eles.
Tu tornaste-me uma pessoa sadia, como se pudesse gostar de mim mesmo. Sem medo de olhar no espelho, reconhecia no reflexo a pessoa que era, sem vergonha, não tinha de ser diferente… pois eu estava com alguém que realmente me compreendia.
Eu sei que errei, que me afastei de uma maneira crua, sei que fui… mas ninguém sabe aquilo que senti.
Em minha mãe vejo que cresci, que não sou assim tão má pessoa como as vezes me pintam, não sou convencido, nem egocêntrico, sou eu mesmo… tenho defeitos.
Sou eu. Às vezes bom, às vezes mau… sou a pessoa que sou e tens de perceber isso, agora no fim, tens de me perceber, eu sou assim… também sei ver os meus erros. Mudei… mas todos mudamos…
Não quero mais viver esta angustiada realidade. Não mais quero sentir o fel de teu olhar, não mais quero residir num mundo que já não sinto meu… jamais merecerei partilhar os odores que teu sedoso ser emana… assim posto, de vós me despeço…
Ainda te amo e sempre te amei Sofia.


Até sempre

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